A infraestrutura de carregamento como diferencial competitivo no negócio de venda de automóveis

As vendas de veículos eletrificados – BEVs (Battery Electric Vehicles), PHEVs (Plug-in Hybrid Electric Vehicles) e HEVs (Hybrid Electric Vehicles) – vêm crescendo em ritmo acelerado em todo o mundo.
Até agosto de 2025, o mercado brasileiro já registra uma participação de 7% a 8% dos eletrificados no total de veículos novos vendidos, segundo a FENABRAVE e a ABVE. Embora o número ainda esteja abaixo dos níveis de mercados mais maduros, trata-se de um crescimento consistente.
Participação dos eletrificados em diferentes mercados:
- Noruega: 92% dos veículos vendidos são eletrificados (sendo 82% BEVs).
- Alemanha: 52% dos veículos são eletrificados, dos quais 18% são 100% elétricos.
- Estados Unidos: 28% são eletrificados, sendo 8% puramente elétricos.
- Japão: 46% são eletrificados, mas majoritariamente híbridos convencionais (HEVs). Apenas 4% são veículos com carregamento na tomada (PHEVs ou BEVs), devido à dependência de combustíveis fósseis na matriz energética.
Cada país tem características específicas que influenciam a adoção dos eletrificados, mas a tendência global é clara: a frota caminha para a predominância dos veículos elétricos.
O avanço dos eletrificados no Brasil
No Brasil, esse movimento ganhou força principalmente nos últimos três anos, impulsionado pela chegada de fabricantes chineses, que trouxeram tecnologias avançadas em:
- Baterias
- Semicondutores
- Inteligência artificial aplicada ao automóvel
Exemplo:
Na China, 42% do mercado já é composto por veículos com baterias de alta tensão e motores elétricos. Destes, 25% são apenas elétricos. O país lidera o mercado global tanto em volume geral quanto em eletrificados.
Impacto no mercado de seminovos e infraestrutura
Com o aumento recente na frota de elétricos no Brasil, é esperado um reflexo direto no mercado de seminovos e usados, especialmente dois anos após o crescimento das vendas de novos. Isso exigirá infraestrutura adequada por parte de concessionários e lojistas.
Hoje, a maioria dos veículos eletrificados é entregue com um carregador portátil lento, suficiente apenas para recargas noturnas. No entanto, não é eficiente para situações de “carga de oportunidade” (30 minutos a 2 horas), como durante a visita a uma loja.
Exemplo prático:
- Carga de 2 kWh por 1 hora a 2 kW
- Aumento de autonomia de 7 a 15 km, dependendo do modelo
Recomendação: Wallbox entre 7 kW e 11 kW
Para recargas mais relevantes no tempo de permanência do cliente, a recomendação é instalar carregadores do tipo Wallbox, com potência entre 7 kW e 11 kW.
Diferente de equipamentos residenciais como chuveiros elétricos (também de 7 kW), um carregador automotivo opera por muito mais tempo. Por exemplo, um carregador de 7 kW leva aproximadamente 7 horas para carregar uma bateria de 48 kWh.
Exigências técnicas da instalação
A infraestrutura elétrica precisa ser robusta e segura. Veja os principais pontos:
Proteção elétrica:
- DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos): protege contra sobretensões
- DR (Disjuntor Diferencial Residual): protege contra choques elétricos
Cabos e disjuntores:
- Devem ser dimensionados corretamente, considerando:
- Potência do carregador
- Distância até o quadro elétrico
- Corrente de operação
Aterramento é essencial
Embora o padrão brasileiro preveja tomadas de 3 pinos com aterramento, muitas instalações não oferecem aterramento adequado.
Nos carregadores de veículos eletrificados, o aterramento é essencial para:
- Garantir a segurança do usuário
- Preservar a integridade da instalação
Mão de obra especializada: invista!
Evite improvisações. Não basta contratar o eletricista que instalou o ar-condicionado da loja. É recomendado contratar uma empresa especializada, que fará o projeto e a instalação de forma segura e em conformidade com as normas.
Requisitos do Corpo de Bombeiros
Além dos requisitos elétricos, a instalação deve atender às exigências de segurança contra incêndios:
- Extintores próximos aos pontos de carga
- Ventilação adequada (natural ou forçada)
- Sinalização de emergência e rotas de fuga
- Projeto técnico aprovado junto ao Corpo de Bombeiros
- Sistema de sprinklers, se a edificação for de alto risco (como shoppings ou indústrias), conforme a Instrução Técnica (IT) nº 23/2025 em São Paulo
Normas técnicas de referência
- ABNT NBR 17019: infraestrutura de recarga
- ABNT NBR 5410: instalações elétricas de baixa tensão
Infraestrutura como diferencial competitivo
Apesar das exigências técnicas e normativas no Brasil serem mais rígidas do que em mercados como a Noruega, isso representa uma oportunidade estratégica.
Concessionárias e lojas que investirem em infraestrutura de carregamento estarão mais preparadas para receber o cliente do futuro e também do presente, que já começa a buscar locais com pontos de recarga.
Oferecer carregadores seguros, conforme as normas, é muito mais que uma conveniência é um diferencial competitivo.
Na prática, isso significa:
- Atrair clientes para uma visita prolongada
- Oferecer uma experiência diferenciada
- Aumentar as chances de conversão em vendas
O recado é simples:
Quem se prepara primeiro, colhe primeiro.
Autor: André Maranhão especialista em veículos elétricos.


